Tradições Natalinas nos EUA contadas no Winterthur Museum and Country Estate

Apesar de ser o segundo menor estado dentre os 50 estados americanos, Delaware pode se orgulhar por uma série de fatores que vão desde o fato de ser o primeiro estado a ratificar a constituição americana, passando pelo fato de ser um dos únicos 5 estados onde não existe Sales Tax (o imposto para compras de produtos), e ainda onde está localizado o museu com o maior e mais completo acervo de Americana (artes decorativas / artigos feitos ou usados nos EUA entre) 1630 e 1860 entre outras coisas.

Winterthur Estate. Uma das 10 maiores casas construídas nos EUA até década de 50 

A razão para o sucesso deste pequeno grande estado não pode ser dissociado do pioneirismo e do espirito empreendedor da família Du Pont. Uma família que emigrou da França para os EUA ao fim da revolução francesa e fundou aqui, às margens do Brandywine River, um moinho de pólvora que se transformaria numa das maiores indústrias químicas que o mundo já viu.

Portão de uma casa de Wilmington que H.F Du Pont comprou para instalar em seu jardim

Inventando produtos presentes em nosso dia-a-dia como o Teflon, Nylon, Rayon, Dacron, Kevlar, Neoprene, Lycra, só para citar alguns. A família logo se transformaria numa das famílias mais ricas dos EUA. Tanto que das 10 maiores mansões construídas nos EUA até a década de 50, 2 delas estão localizadas aqui em Delaware e perteceram à família.

Atrolábio num dos Jardins do Winterthur Museum

Uma destas mansões é o Winterthur Museum & Country Estate. Localizada em Greenville, esta foi a antiga casa de Henry Francis du Pont(1880-1969), um ávido horticultor formado em Harvard que além gostar de plantas, gastou parte de sua fortuna pessoal colecionando antiguidades.

Henry Du Pont colecionava até mesmo fachada de casas históricas (Isso é dentro da mansão)

No início do século 20, Henry Francis du Pont, bisneto de Eleuthère Irénée du Pont, fundador da E. I. du Pont de Nemours and Company herdou de seu pai Henry Algernon du Pont  (Senador por Delaware em 2 mandatos e deputado por outros 6) o Winterthur Estate, uma propriedade de míseros 10 milhões de m2 , onde ele construiria ou melhor reformaria uma casa com então 30 aposentos para uma mansão de 175 aposentos.

Decoração Natal no Yuletide no Winterthur Country Estate em Delaware

Isso sem contar nos seus magníficos jardins naturalistas, que são um espetáculo à parte na primavera e no Outono e que são de um estilo totalmente diferente do Longwood Gardens fundado por Pierre Samuel Du Pont, seu primo de segundo grau. Com a morte de Henry Francis Du Pont em 1969, o local foi transformados em museu/fundação e aberto à visitação pública e  área da propriedade reduzida à 4 milhões de metros quadrados.

Biblioteca dos Du Pont no dia da distribuição dos presentes

Mas enfim o foco deste post é falar um pouco mais sobre o Yuletide, uma mostra/tour especial que acontece no mês de Dezembro por alguns dos 175 cômodos do Winterthur Museum e que conta através de seus objetos um pouco da história e evolução de algumas tradições natalinas nos EUA colonial até os natais da família Du Pont no período da II Guerra Mundial.

Escadas e mobilia do estilo federal no Winterthur Museum

O passeio é uma verdadeira viagem através do tempo, onde o visitante é literalmente levado a descobrir diversas tradições natalinas, muitas das quais se perderam na história. Num grupo de no máximo 8 pessoas, é interessante observar como as festas de final de ano evoluíram no tempo.

Jantar de fitas, uma tradição natalina que caiu em desuso com o tempo

 Em 1700 o Natal era centrado na confraternização e jogos entre adultos. 100 anos mais tarde o Natal passou a ser mais singelo e os brinquedos e as árvores de Natal eram introduzidas, para finalmente chegarmos ao consumismo extravagante do século 20.

Árvore Natalina da segunda metade do século XIX com ornamentos feitos em Killing

Hoje, é praticamente senso comum que o Natal é uma época majoritariamente voltada para as crianças e o consumo. Apesar de o cunho religioso sempre ter existido e quase não ter mudado ao longo dos anos, não tinha ideia que o Natal nos EUA nem sempre foi tão “child friendly” assim.

Mobilia antiga do século XVIII 

Nesta época (América colonial do século XVIII), a chegada do Inverno e do Natal significava a chegada de uma espécie de “verão social”. Nesta época, além de comemorar o nascimento de Jesus Cristo, os adultos podiam dar um tempo longe de suas tarefas agrárias diárias e relaxar, beber e “comemorar”o nascimento de cristo.

Glass Mirror Map uma das formas de diversão em festas de fim de ano no século XVIII

Essa pausa de fim de ano geralmente durava cerca de 12 dias e culminava com o Baile da Noite de Reis em que o rei e a rainha da festa do ano seguinte eram escolhidos por sorteio (muitas vezes com o tradicional anel no bolo de reis).

Baile da Noite do dia de Reis nos EUA Colonial

Apesar desta ser uma celebração totalmente esquecida ao longo do tempo aqui nos EUA, ela era muito popular no século 18 e diz a história que Martha Washington, a primeiríssima primeira dama dos EUA adorava esta celebração e adorava ser escolhida para ser a rainha (anfitriã) da festa do ano seguinte. Na edição deste ano, o Wintherthur dedicou dois cômodos decorados especialmente para recriar este período.

Natal no periodo colonial dos EUA retratado no Yuletide em Delaware

No século XIX, o foco das festas de fim de ano passou a se voltar para ações de caridade e as crianças. Os primeiros sinais dessa nova fase do natal nos EUA surgiu entre os imigrantes alemães da Pensylvannia, que introduziram a árvore de Natal decorada com guloseimas para as crianças e o conceito do mercado/bazar de caridade de Natal nas primeiras décadas do século a fim de proporcionar um natal aos mais desfavorecidos.

Presentes embalados em papel seda branco na era vitoriana

Nesta parte da visita, o visitante tem a chance de conhecer uma réplica original da primeira árvore de natal montada nos EUA. Trata-se de uma reprodução de uma gravura publicada num jornal da Pennsylvannia. O curioso é que na verdade a primeira árvore de Natal dos EUA não era um pinheiro e sim um azevinho. Planta que por sinal, além se ser nativa da região é também a árvore símbolo de Delaware.

Réplica da 1 árvore de Natal dos EUA

Além disso, nesta parte da exposição, fachadas históricas de casas oriundas de diversas regiões dos EUA Colonial recriam uma pequena cidade e seu bazar natalino beneficente, com a representação da venda de mantas, trabalhos em patchwork, doces e comidas. Cuja renda geralmente era convertida para a igreja/congregação local.

Bazar de Natal no século XIX no interior da Pennsylvania

 A medida que o século avançava e adentramos outros ambientes, chegamos a era  vitoriana de Natal. É nesta época que as crianças passam a receber brinquedos no dia 25 de Dezembro. Até então a influência germânica do dia de Nikolaus era bastante presente na região com a distribuição de doces e presentes no dia 06 de Dezembro.

Natal na Era Vitoriana

Uma das variações mais curiosas na distribuição dos presentes na era vitoriana minha opinião foi uma “teia de fitas coloridas” que levavam as crianças e adultos do seu lugar na mesa do almoço de Natal até seus presentes espalhados pelo recinto. Uma idéia interessante mas que por um minuto parece um carnaval. Ahh nesta época era tradição se embalar os presentes em papel de seda branco. Ou seja nada de papeis multi-coloridos até então.

Natal com fitas coloridas levando da mesa até o presente

Nas outras galerias/cômodos por onde passam Yuletide Exibition, o visitante pode conhecer ainda como eram/foram algumas das várias festas de inverno da família du Pont em Delaware. Entre elas um extravagante jantar que celebrou os primeiros 100 anos da família Du Pont na América com mais de 100 membros da família fazendo parte da festa. A decoração contou com palmeiras trazidas especialmente para o evento do Sul dos EUA. Meio cafona para dizer a verdade mas não por isso menos interessante.

Decoração da festa dos 100 anos da família Du Pont em Delaware

As tradições e enfeites natalinos de Henry Francis du Pont e sua família em Winterthur na década de 1930 e 40, podem ser vistos numa enorme árvore de Natal disposta no conservatório anexo à mansão, onde no passado fora a entrada principal da casa.

Árvore de Natal da década de 30 -40

Além disso, em vários ambientes que visitamos podemos encontrar árvores natalinas contemporâneas, muitas delas inspiradas nos Jardins do Winterthur, entre elas uma árvore inspirada no March Bank, outra inspirada no Azalea Garden, outra no Peonia Garden e assim por diante.

Peonia Christmas Tree Yuletide @ Winterthur Museum & Country Estate 

Mas a mais bela de todas é a árvore de flores secas desidratadas colhidas ao longo do ano pelos jardins da mansão para a montagem da mesma. Na minha opinião uma das árvores de Natal mais bonitas que eu já vi nos últimos tempos.

Árvore de Flores Secas do Yuletide @ Winterthur Museum & Country Estate

Algumas das árvores de Natal encontradas no Yuletide

 

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8 Comentários

  1. avatar
    Posted by Gustavo - Viajar e Pensar| 17/12/2011 |Responder

    Esta região no Inverno deve estar linda,!
    As Mansões e Museus da família Dupont devem ser incríveis. Os Dupont possuíam um belíssimo gosto para coisas e esta visão de informar ou passar para frente como eles viviam é muito legal .
    Mais um motivo para voltarmos a Delaware.

    Abração

    • avatar
      Posted by MauOscar| 26/12/2011 |Responder

      Gustavo

      Esta regiao e mesmo muito legal e muito das coisas que encontramos em Delaware so existem gracas aos DuPont..
      Estamos esperando a visita de vcs aqui ou seja onde vamos estar daqui alguns meses….

      Abraco 😀

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    Posted by Malu| 17/12/2011 |Responder

    Que aula!!!!!!! Quero muito conhecer tudo pessoalmente mas seu relato e fotos estão demais. Amei!

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      Posted by MauOscar| 26/12/2011 |Responder

      Malu

      Tenho certeza que voce iria adorar conhecer essa regiao aqui…
      Obrigado pela visita e um feliz 2012 😀

      Bjs

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