Após um intensivo e pioneiro programa de recuperação ambiental desenvolvido ao longo das últimas 3-4 décadas. A ilha de Tiritiri Matangi na região do Hauraki Gulf em Auckland pode ser considerada hoje, um dos mais bem sucedidos programas de recuperação ecológica da Nova Zelândia.
Abrigando algumas das mais belas, raras e cantantes espécies de aves da Nova Zelândia, Tiritiri Matangi é uma ilha de aproximadamente 220 hectares que por inúmeras décadas foi utilizada para a criação extensiva de ovinos e ao longo desse período, viu sua cobertura vegetal original ser quase que completamente suprimida, juntamente com a sua fauna original local.
Localizada a pouco mais de 30 km ao norte do centro de Auckland, em meio ao Golfo de Hauraki, Tiritiri Matangi deixou de ser utilizada na criação de ovinos há cerca de 50 anos e foi transformada, graças ao trabalhos de centenas de voluntários num verdadeiro paraíso para a observação de aves nativas.
Pouca gente sabe disso, mas até a chegada dos primeiros habitantes polinésios também conhecidos como Maoris há cerca de 600-700 anos atrás. A Nova Zelândia era um ambiente exclusivamente dominado pelas aves e algumas poucas espécies de répteis e anfíbios. Pelo fato deste ecossistema ter evoluído isolado do resto do mundo e praticamente sem predadores naturais, muitas das espécies de aves endêmicas da Nova Zelândia acabaram perdendo a habilidade do vôo.
Com a chegada do homem e posterior introdução de predadores exóticos (leia-se mamíferos), muitas das espécies nativas da Nova Zelândia logo se tornaram presa fácil para os animais trazidos pelo homem de outras partes do planeta. Um dos casos mais infames da extinção de uma espécie pela ação direta e indiscriminada do homem foi a caça dos Moas.
Os Moas eram aves gigantes um pouco parecidas com as emas e avestruzes de hoje em dia, só que elas chegavam a medir até 3.6 metros de altura e podiam pesar até 250 kg. Por serem uma fonte abundante de proteína e relativamente fácil de ser capturada, a população de Moas não resistiu à chegada dos Maoris e desapareceu infelizmente por completo antes mesmo da chegada dos primeiros europeus no século XVIII.
Porém foi a ação indireta do homem, através introdução maciça de predadores exóticos especialmente mamíferos (ratos, furões, gatos, possums, doninhas, coelhos e afins), que representaram uma verdadeira calamidade ao frágil ecossistema neozelandês. Sobretudo após a descoberta da Nova Zelândia pelos Europeus no século XVIII.
Embora os Maoris tenham dado fim nas 9 espécies de Moas gigantes que outrora habitavam essas bandas, foi a introdução de animais domésticos e de outros animais trazidos pelos europeus, ocorrida a partir do século XVIII, que fez com que pelo menos 51 espécies de aves endêmicas da Nova Zelândia fossem perdidas para sempre.
E justamente, tentando reverter este alarmante e contínuo processo de destruição das populações nativas de aves, que há cerca de 3-4 décadas a Nova Zelândia iniciou um programa intensivo para salvar várias de suas espécies nativas de aves e repteis em sério risco de extinção. A situação é tão complicada que até mesmo o Kiwi, a ave símbolo da Nova Zelândia, estava (ainda está) fadado a desaparecer da face da terra.
Dentre as várias estratégias conservacionistas adotadas para tentar salvar as espécies nativas, pouquissimas foram tão efetivas como o que podemos testemunhar visitando Tiritiri Matangi nos arredores de Auckland.
Esta ilha de 2.2 km2 fora utilizada ao longo de quase 120 anos para pecuária de ovinos, viu aproximadamente 94% de toda sua cobertura vegetal original foi destruída para dar lugar as pastagens. Com a perda da cobertura vegetal, mais de 90% das espécies de aves que outrora viviam na ilha simplesmente desapareceram do local. Tecnicamente, apenas as aves marinhas conseguiram se manter na costa ilha. As outras migraram para outras ilhas do golfo, ou simplesmente sucumbiram à destruição de seu habitát natural.
A degradação do ambiente chegou a um ponto tão crítico que nem mesmo a pecuária era mais economicamente viável e na segunda metade do século passado a ilha foi literalmente “abandonada”. Porém graças aos esforços do Departamento de Conservação da Nova Zelândia, em 1969 a área foi transformada em uma reserva recreacional e um intensivo e audacioso programa de recuperação ambiental foi colocado em prática visando transformar a ilha num santuário da vida selvagem.
Com o auxílio de um verdadeiro batalhão de voluntários, mais de 280 mil mudas de árvores e arbustos nativos foram plantados na ilha. Tanto que hoje, aproximadamente 65% da ilha é coberta por floresta nativa plantada entre 1984-1994 que aos poucos entra para um estado mais avançado de sucessão florestal. Já os outros 35% foram matidos como área de campo que aos poucos começa a dar lugar a sucessão vegetal.
Além do plantio maciço de árvores e arbustos nativos, a ilha passou por um complexo programa de erradicação total de animais exóticos introduzidos pelo homem, onde além de um verdadeiro pente fino para eliminar absolutamente todos os mamíferos, foi instalado um “sofisticado” sistema de armadilhas para monitorar e literalmente matar qualquer animal intruso não desejado.
E apenas após a ilha ser finalmente considerada 100% pest free em meados da década de 90, é que várias espécies de aves, algumas delas em sério risco de extinção, foram re-introduzidas com sucesso no local.
E a medida que o tempo tem passado e o ecossistema maturado, os resultados tem sido extremamente positivos. Tanto que hoje o trabalho feito en Tiritiri Matangi é replicado em outras áreas do país e do mundo. E mais que apenas um santuário, é um local bacana para fazer Bird Watching, e um poderoso lembrete que ainda podemos consertar aquilo que estragamos no planeta em que moramos.
O modelo de restauração ambiental adotado em Tiritiri Matangi logo passou a ser copiado em outras ilhas ao longo da costa da Nova Zelândia e até mesmo em outros lugares do mundo. Hoje estas ilhas “pest-free” especialmente aquelas chamadas de Off-shore Islands podem ser a única chance de sobrevivência para várias espécies nativas em elevado risco de extinção.
Em Tiritiri Matangi, além de muitos passsarinhos, vários kms de trilhas e belíssimas praias, o visitante pode conhecer (por fora) o mais antigo farol ainda em funcionamento na Nova Zelândia.
Construído em 1864 ele foi por muito tempo o farol mais potente do hemisfério sul, capaz de ser visto a uma distância de 64Km. Hoje ele é totalmente automatizado e seu alcance diminuído em menos da metade do que ele costumava ser. Ainda assim, importantíssimo para o tráfego marítimo do Hauraki Gulf e Porto de Auckland.
Veja os comentários
Fantástico!!!
Muito bom que eles estão fazendo isso para preservar as espécies ameaçadas de extinção. Obrigada por compartilhar
Eu concordo!! Eu acho super legal fazer observação de aves e a NZ nesse quesito é uma paraíso..
Obrigado pela visita
Abs