Viajar de trem muitas vezes é uma das melhores maneiras de você comtemplar a paisagem numa viagem. Na Nova Zelândia isso não é diferente e na região de Dunedin na Ilha Sul, tive a oportunidade de fazer um interessante passeio de trem por parte da Otago Central Railway explorando as fantásticas paisagens esculpidas pelo Taieri River ao longo do Taieri Gorge até o pequeno vilarejo de Pukerangi.

Tida como uma das principais atrações de Dunedin, a Taieri Gorge Railway é um passeio de trem que faz você literalmente voltar ao passado. Construída já no finalzinho da corrida do ouro em Otago, a estrada de ferro foi projetada e construída à reboque do boom econômico trazido pelas minas de ouro da região, mas principalmente para servir de acesso as novas áreas agricultáveis no chamado Otago Hinterland e Central Otago.

Percorrendo algumas das mais belas paisagens da província de Otago, o passeio de trem pela Taieri Gorge é relativamente curto (116 Km ida e volta), mas digamos diferente de todas as outras viagens de trem que já havia feito antes na Nova Zelândia. E isso se deve principalmente pelo fato de que o que você vê na maior parte do trajeto do passeio, não pode ser visto de outra maneira a não ser de trem.

Um pouco sobre a ferrovia central de Otago na Nova Zelândia

A Otago Central Railway é um ramal ferroviário que se ramifica à partir da ferrovia troncal da ilha sul da Nova Zelândia no pequeno vilarejo de Wingatui, à cerca de 13 quilômetros ao sul de Dunedin, e segue para o interior de Otago passando por Middlemarch, Ranfurly, Omakau, Alexandra e que ia até Crownwell no coração de Central Otago percorrendo 235 km.

Na época de planejamento, este foi o trajeto escolhido entre outras 7 proposições apresentadas em 1877 ao governo neozelandês. A escolha deste traçado preterindo os demais , se deu pelo fato de garantir acesso a uma maior área de terras até então inacessíveis e propícias para atividades agropecuárias. Além disso, esta era ainda a rota ferroviária mais direta entre Cromwell e Dunedin e a que ainda apresentava menos desafios de engenharia para sua transposição.

Como no final da década de 70 do século XIX, a corrida do ouro em Otago já se encontrava em pleno processo de derrocata e o foco econômico da região se voltava ao potencial agro-pastoril do chamado Dunedin Hinterland. A necessidade de acessar partes do território até então inacessíveis se tornava cada vez mais imperativa. E como as estradas de terra, naquela época, eram famosas por sua má qualidade e intermináveis buracos. A construção de uma ferrovia, era na época, vista como a melhor maneira de melhorar a infra-estrutura de transporte e comunicação nesta parte do país.

A construção da ferrovia começou em Junho de 1879 e em menos de 1 ano virou vítima da depressão econômica que persistiu por boa parte dos anos 1880. Porém em 1889, os primeiros 27 km da linha de ferro foram inaugurados, indo de Wingatui até Hindon em meio a Taieri Gorge.

Middlemarch foi conectada dois anos mais tarde em 1891 e a partir das duas próximas décadas ,a linha foi concluída. Ranfurly em 1898, Omakau em 1904, Alexandra em 1906 e Clyde em 1907. A partir de Clyde, a Otago Central Railway ficou sem se expandir por 7 anos, até que em 1921 a estrada de ferro chegou finalmente em Cromwell.

Apesar de ter chego ao coração de Central Otago muito depois da corrida do ouro, a estrada de ferro desempenhou papel importante no desenvolvimento de Central Otago. Milhares de toneladas de produtos agrícolas, especialmente frutas e centenas de milhares de animais trafegaram por essa ferrovia em direção à Dunedin e outros destinos ao norte da South Island Main Trunk Line.

Regulamentações específicas de transporte protegeram a estrada de ferro contra a concorrência do transporte terrestre de animais até 1961 e cargas em geral até 1983. No entanto, em 1980 com a contrução da barragem do Clutha River em Clyde fez com que o trecho entre Clyde e Cromwell ficasse submerso com a elevação dos níveis do reservatório da 3 maior usina hidroelétrica do país. Porém até a conclusão total das obras em 1989, a estrada de ferro serviu para o transporte de aço, cimento e equipamentos para a construção da mesma.

Com o fim da conectividade até Central Otago, em Dezembro de 1989 o ministro dos transportes da Nova Zelândia, anunciou que a Otago Central Railway seria desativada em 30 de Abril do ano seguinte.

Foi ai que a cidade de Dunedin, com apoio popular conseguiu levantar cerca de 1 milhão de dólares em doações e assim pode financiar o projeto em que a ferrovia até Middlemarch passando pela belíssima Taieri Gorge foi comprada do governo neozelandês. E com isso, a Otago Excursion Train Trust, que desde meados da década de 80 já operava passeios turísticos de final de semana pela região, pode continuar a operando nos 77 km entre Dunedin e Middlemarch.

Desde então, a Taieri Gorge Railways, que recentemente foi rebatizada de Dunedin Railways, se tornou a maior linha ferroviária privada do país e nestes quase 25 anos de existência já transportou milhares de passageiros por este cenário maravilhoso que as fotos que ilustram este post mostram para vocês.

O Passeio de Trem entre Dunedin e Pukerangi/Middlemarch através da Taieri Gorge

O trem sai diariamente, algumas épocas do ano 2 vezes ao dia, da fofíssima estação ferroviária de Dunedin, a qual falei um pouco mais neste post da série uma cidade: uma atração.

Após a partida deste esplêndido exemplo da arquitetura eduardiana barroca, o comboio circula através dos subúrbios ao sul da cidade de Dunedin e segue em direção às férteis planícies do Taieri River antes começar a ganhar altitude e subir por suas margens em direção ao cânion do Taieri Gorge.

Apesar de não tão novos, modernos e confortáveis quanto os trens turísticos operados pela Kiwirail em outras ferrovias neozelandesas, a viagem pela Taieri Gorge com a Dunedin Railways é um passeio inesquecível para quem curte apreciar paisagens bonitas e viajar de trem.

Assim como o TransAlpine, o Coastal Pacific e o Northen Explorer, o Taieri Gorge Explorer é composto por uma composição formada pela locomotiva, vagões de passageiros e um vagão “café”, onde você pode comprar coisa para comer no trem ou mesmo um café ou outro drink de sua escolha.

Infelizmente, ao contrário dos outros passeios de trem que fiz na Nova Zelândia, a composição não possui um vagão obsbervatório para você ficar tirando fotos sem a interferência dos vidros da janela. Mesmo assim, dá para tirar boas fotos do passeio ficando nas pequenas plataformas entre um vagão e o outro.

Update: Acabei de ser informado pelo pessoal da Dunedin Railways que agora existe um vagão observatório no trem. 😀 

Enfim, se você não for como eu que não sussega enquanto não tira um monte de fotos, sente-se e relaxe enquanto o trem avança pelo Taieri Gorge. Passando por penhascos e precipícios, 12 túneis e dezenas de pontes e viadutos metálicos históricos, o passeio é uma verdadeira aventura.

Dentre os vários viadutos metálicos, o mais impressionante de todos é o Wingatui Viaduct com 197 metros de extensão e elevando-se a cerca de 47 metros acima do Mullocky Stream, o que faze dele uma das maiores estruturas de ferro forjado do hemisfério sul. Já o túnel mais longo da viagem se extende por 437 metros.

Ao longo do trajeto, o trem também pára umas 2 – 3 vezes para que você possa desembarcar para tirar algumas fotos e esticar as pernas. Depois de subir cerca de 250 metros em relação ao nível do mar, o trem sai do Taieri Gorge e avança pelo Taieri Strath Plains até Pukerangi. Neste trecho da viagem a paisagem é bastante rochosa, para não dizer quase lunar.

Como fiz esse passeio no outono, as salicáceas das margens do Taieri River e outras arvores caducifólias estavam amarelinhas dando um tchan no visual. Infelizmente no dia que fiz o passeio o tempo estava meio nublado o que digamos não privilegiou muito as fotos, mesmo assim foi super bonito.

Pukerangi é o habitual ponto de reviravolta do trem, embora alguns dias a viagem continue até Middlemarch. Lá a composição fica parada enquanto a locomotiva é transferida para a outra extremidade da composição para iniciarmos o caminho de volta à Dunedin.

Na viagem de regresso para Dunedin você pode tirar vantagem de viajar o mesmo caminho para tirar fotos das as vistas em ângulos diferentes mais uma vez, ou pegar aqueles highlights que você perdeu no caminho de ida ou simplesmente relaxar curtindo o visual.

Eu pessoalmente acho uma pena que não seja mais possível chegar em Cromwell de trem, seria o máximo fazer essa viagem de Dunedin até Cromwell de trem. E com o turismo se tornando uma das principais indústrias e fontes de renda para a Nova Zelândia, seria ainda mais legal se pudéssemos chegar de trem em Queenstown.

Na verdade temos que dar graças a deus que ainda é possível ir de trem até Pukerangi ou Middlemarch. De lá é possível seguir adiante de Bicicleta na cada vez mais popular Otago Central Rail Trail ou Van até Queenstown ou Wanaka.

Otago Central Rail Trail

Apesar de hoje em dia o trem ir no máximo de Dunedin até Middlemarch, boa parte do trajeto original da linha de ferro foi convertido no que é chamado hoje de Otago Central Railway Trail, uma trilha para mountain bike e caminhada que se extende por aproximadamente 150 km entre Middlemarch e Clyde num projeto pioneiro que aos moldes das Great Walks da Nova Zelândia, vem desde 2009, criando uma rede de trilhas de bicicleta que irá formar o que já estão chamado de Great Rides.

Esta trilha é considerada de nível fácil e geralmente é feita entre 1 e 5 dias dependendo so seu grau de habilidade física. Para maiores informações a respeito dessa trilha acesse esse site ou o site da NZ Cycle Trail website ou Tourism Central Otago. Se estiver por aqui no próximo verão quero ver se faço esse passeio.

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