Apaixonado por plantas e natureza desde quando me entendo por gente, a chance de conhecer pessoalmente a reprodução em escala reduzida dos famosos Jardins de Giverny, imortalizados nas obras impressionistas de Claude Monet, no Jardim Botânico de Nova York, logo passou a ser uma prioridade numa ida a Nova York depois que ví este post aqui.
Aproveitando o penúltimo final de semana de Junho resolvemos, de última hora, dar um pulo na Big Apple. Na programação, além de assistir ao excelente musical Evita com Rick Martin na Broadway e curtir a cidade numa de suas melhores épocas do ano, fomos conferir pessoalmente a exposição dos Jardins de Monet no renomado Jardim Botânico de Nova York.
Optamos por visitar o local no domingo antes de voltarmos para Delaware e depois de uma “viagem” até o Bronx, finalmente chegamos ao New York Botanic Gardens , local que entre os dias 19 de Maio à 21 de Outubro 2012 foi “transformado” numa espécie de mini Giverny em Nova York.
A exposição dos jardins de Monet começa no Poetry Walk. Claude Monet (1840-1926) foi uma das principais figuras do movimento impressionista francês. Provavelmente o pintor de paisagens de maior destaque e sucesso entre seus conteporâneos, produzindo mais de 2.500 pinturas ao longo de sua longa carreira, muitas das quais retratam plantas do jardim que ele mesmo criara, o famoso Jardim de Giverny.
Além de excelente pintor, Monet era um exímio jardineiro. Tanto que uma vez chegou a declarar que se ele não tivesse se tornado um pintor, ele provavelmente seria botânico. E vendo alguns objetos/anotações feitas pelo pintor sobre suas plantas e seu jardim, deu para perceber que ele era muito bom nisto também.
Depois de passar as duas primeiras décadas de sua vida profissional na região de Paris, em 1883 aos 42 anos de idade, Monet resolveu mudar com sua família para um local mais calmo, Giverny, onde poderia aliar suas duas paixões, a pintura e a botânica.
Localizada a cerca de 50 quilômetros a noroeste de Paris, na Normandia. Foi em Giverny que o artista devotaria 43 dos seus 86 anos de vida, fazendo o que mais gostava, pintando e “jardinando” até sua morte em 1926.
Depois de comprar a propriedade, Monet iniciou o ambicioso projeto de transformar o que era uma típica horta da normandia em seu inigualável jardim. Para isso, Monet removeu as hortas e muitas das árvores frutíferas existentes no terreno. Estas dariam lugar ao plantio de canteiros de flores em linha, geometricamente organizados que forneciam uma explosão de cores ao longo de cada estação e que foram imortalizadas em algumas das mais belas pinturas do artista.
Logo no primeiro ano em Giverny, ele contratou seu primeiro jardineiro profissional para ajudá-lo com a tarefa de transformar o local no seu jardim dos sonhos. Nos anos que se seguiram, Monet acabaria por empregar outros cinco jardineiros, todos trabalhando para expandir e manter seus jardins cada vez mais grandiosos.
Hoje, os jardins de Monet em Giverny, que ele mesmo considerava sua maior obra-prima, estão entre as atrações turíticas mais visitados de toda a França. E este é certamente um destino que, ao lado do Keukenhof na Holanda, entre outros, que espero um dia ainda conhecer e escrever aqui no Blog.
Adentrando no Haupt Conservatory, uma das instalações existentes no Jardim Botânico de Nova York é o The Grand Allée, um jardim formal que procura reproduzir o Clos Normand de Giverny. Um jardim caracterizado por um largo caminho simétrico forrado de flores da estação e emoldurados por arcos de metal que suportam algumas rosas e trepadeiras. As fotos não ficaram uma maravilha pois como tudo em Nova York, o local estava cheio de gente.
Na concepção deste jardim, Monet foi fortemente influenciado pelo paisagista André Le Nôtre, proeminente paisagista francês do século XVII que projetou entre outras coisas, os jardins do palácio de Versalhes, bem como o Jardim des Tuileries , em Paris.
Porém, os jardins de Monet não foram apenas fundamentados na tradição formal dos jardins franceses. Eles foram também influenciados por tendências mais naturalistas do paisagismo inglês, tendências estas que enfatizam canteiros não tão lineares e que “evoluem” com o tempo. Isso garantiu que os jardins de Giverny oferecessem uma grande abundância de flores e cores em cada uma das estações, com um toque levemente formal num processo cíclico sem fim. E isto aparentemente será reproduzido ao longo do ano na exposição em Nova York.
Na primavera os canteiros originais do Clos Normand em Giverny são caracterizados pela floração das cerejeiras, narcisos e lírios. Estas flores dão lugar à cores mais fortes de chagas, zínias e cosmos no verão e girassóis, asters, e dálias no outono. E são justamente algumas destas espécies de plantas que foram plantadas no Jardim Botânico de Nova York para re-criar em escala minimalista os jardins de Monet.
Depois de caminhar pelo Grand Allée, chegamos a reprodução de um de seus mais famosos jardins, aquele que tem o lago com a ponte de madeira. Quando Monet adquiriu o terreno para a construção deste jardim em 1893 ele apresentou uma petição ao governo local que lhe deu a permissão para desviar o fluxo de um pequeno córrego para criar um pequeno lago. E foi neste lago, ampliado algumas vezes, que ele cultivava suas vitórias régias, ninféias e outras plantas aquáticas.
A peça central deste jardim é a ponte em arco que Monet imortalizou em suas obras. Na Primavera em Giverny, a ponte é adornada com glicínias brancas e violetas, que devem exalar em fragrância bastante agradável. No jardim original lá na França, abundam as Íris Japonesas encontradas ao redor da borda do lago ao lado de várias espécies de gramíneas. Dando um toque naturalístico, a lagoa é circundada por salgueiros, choupos e álamos. E como esta é uma re-criação deste icônico jardim, além de uma miniatura da ponte você ve muitas das mesmas plantas no Jardim Botânico de Nova York.
Segundo a exposição, Monet se deleitava com o trabalho de projetar seus jardins. Ele caminhava por eles de três a quatro vezes por dia, inspirando-se no que via a cada passeio. Inpiração esta que servia para seus quadros e também para planejar novos empreendimentos em seu paraíso particular.
Ao longo de seus 43 anos em Giverny, ele continuamente redesenhou seu jardim, o aquático em particular, dedicando-se no trabalhoso e caro processo continuamente. Em 1901, ele comprou mais terras e expandiu consideravelmente o tamanho de seu jardim. Em 1910 ele reformulou todo o Water Garden
Monet tinha prazer em compartilhar seu jardim com os amigos, especialmente jornalistas e estadistas, entre eles Georges Clemenceau (1841-1929). E trocava dicas de plantas e jardinagem com o também pintor e jardineiro Gustave Caillebotte (1848-1894).
O Jardim de Monet não ficou famoso depois da morte do pintor, pelo contrário, dignitários e jornalistas viajavam para Giverny para ver os jardins. E em vida, os Jardins de Monet tornaram-se como uma parte intrínseca de sua persona pública, assim como as pinturas em que eles foram tantas vezes retratados.
Monet era um ávido leitor de revistas de horticultura e muitas vezes enviou sementes ou plantas que encontrava em suas viagens para casa. Ele era atento às tendências de jardinagem, como a importação de novos híbridos para incorpororar em seus jardins.
Tanto que na época que Monet começou a projetar seu jardim aquático, muitas das vitórias-régias e ninféias coloridas que ele comprou eram novas cultivares. Até o final do século 19, a ninféia nativa da Europa produzia apenas flores brancas.
Isso mudaria em 1875 quando Joseph Bory Latour-Marliac estabeleceu um viveiro e introduziu diversos híbridos em diferentes cores para o mercado europeu através da criação de cruzamentos controlados com plantas da mesma família, oriundas de locais de clima tropical e mais quentes. Monet foi particularmente inspirado pelas ninféias azuis, rosas e amarelas destes novos híbridos quando as viu pela primeira vez numa exposição de plantas de Latour-Marliac durante a Feira Mundial de 1889, que também inauguraria a torre Eiffel em Paris.
Monet era meticuloso no cuidado de suas ninfeias e vitórias régias. Embora os híbridos criados por Latour-Marliac serem capazes de resistir a temperaturas de inverno, os jardineiros de Monet removiam todas as suas plantas no final do outono, armazenando-as em em uma estufa especialmente construída para este propósito. Na primavera, elas eram trazidas de volta ao ar livre para compor o layout de seu jardim aquático. Além das ninfeias e vitórias régias, Monet incorporou ao longo dos anos outras variedades de plantas áquaticas que passaram a ser incorporadas em suas pinturas.
O Jardim aquático de Monet forneceu inspiração interminável para suas pinturas. Ele muitas vezes sentava-se a beira do lago e ficava horas observando as alterações de luz e os reflexos na superfície da água. Enquanto outros artistas da época estavam se afastando de temas naturalistas, Monet continuou a pintar o jardim que ele tão amorosamente cuidadava.
Em 2010, tivemos o privilégio de prestigiar uma exposição no MoMa com os painéis gigantes que ele criou retratando as “Water Lilies” já no fim de sua vida, os quais podem ser vistos, quando não emprestados, no Musée de l’orangerie em Paris. Impressionantes pelo seu tamanho e técnica, este é o tipo de obra que define a genialidade de seu criado. Simplesmente fantástico.
Depois de experimentar a elegância natural de jardins de Monet, saimos do Haupt Conservatory, seguimos em direção a Rondina Gallery no edifício da Biblioteca Mertz do NYBG, onde a mostra “The Artist in the Garden” está aberta à vistação. Com curadoria de Paul Hayes Tucker, uma das maiores autoridades americanas sobre Monet e impressionismo, esta exposição de pinturas e fotografias proporcionam uma maior compreensão da arte de Monet, no contexto de sua vida como jardineiro e homem de família em Giverny.
A peça central da exposição é a exibição de duas pinturas de Monet, as quais nunca foram expostos juntas. E segundo o curador oferecem duas visões diferentes dos jardins de Monet, assim como a evolução no seu estilo de pintura. Infelizmente nesta parte da mostra fotografias não são permitidas.
Fotografias e documentos históricos contam a história da criação de jardins de Monet, desde as plantas que Monet comprou até os “projetos” que transformaram os jardins de Giverny ao longo das décadas que o artista por lá viveu.
O item mais precioso de toda a exibição talvez seja a própria paleta de Monet e um de seus sketchbooks que fornecem informações adicionais sobre o processo artístico do pintor. Monet passava horas em seus jardins todos os dias, começando muitas de suas pinturas ao ar livre e as concluindo em seu estúdio, muitas vezes ao longo de muitas sessões.
Num andar abaixo, na Galeria Ross, as fotografias de Elizabeth Murray, uma artista e fotografa e entusiasta dos jardins que tem documentado os jardins de Monet por 25 anos, fazem o visitante ter uma amostrinha grátis de Giverny nas 4 estações do ano.
Honestamente falando, esperava muito mais da exposição em si. Todo o alarde para a exposição que tem apenas 2 quadros, uma paleta e algumas plantas plantadas para lembrar os jardins originais na França, foi um pouco decepcionante. Porém apesar dos pesares, considero que ainda assim valeu para conhecer um pouco mais sobre a história e processo criativo de um dos mais importantes pintores impressionistas da história e sua paixão pelas plantas. Isso sem falar no histórico Jardim Botanico de NY, que além de enorme é muito bonito. (Porém um pouco fora de mão).
E tenho uma confissão a fazer: Na minha opinião, nos EUA não existe um jardim botânico mais bonito e bem cuidado que o Longwood Gardens 😛 Obviamente ele não é tão grande como o de Nova York, mas também não chega a ser tão pequeno quando o Jardim Botânico de Washington DC.
Curador da exposição no Jardim Botânico de Nova York
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Giverny: a casa e os jardins de Monet no Cenexão Paris
Veja os comentários
Oscar.maravilhoso o post e as imagens. mandei para a tia Re que tambem adora Monet. esse jardim deve ser um sonho.
Tio Du
O Jardim botânico de NY é muito bonito e a mostra bastante instrutiva, mas tinha uma expectativa maior do que pude conferir.. Mas mesmo assim valeu :D
Bjs
Amei este post. Já tinha visto no Abrindo o Bico, me fez mudar de ideia, em vez de passear no Brooklin acho que vou no Bronx :-) :-)
Luciana
Bem se não quiser ir tão longe tem o Jardim Botânico do Brooklyn também.. :D O local fica longe pra dedéu, vale pelo Jardim Botanico, mas a mostra do Monet me decepcionou um pouco, mas pelo menos aprendi algumas coisas que não sabia sobre ele e conheci o Jardim Botânico de NY :D
Obrigado pela visita
Bjs
Oscar,
Lindo seu post e fotos. Sou apaixonada por Monet, é meu pintor predileto. Acho que vou arriscar e ir, já que ainda não conheço o da França. Vou na próxima semana. Viagem totalmente inspirada nos seus posts do Yellowstone e Grand Teton. Serão nossos guias.
Abraços.
Flora
Mesmo que a mostra não seja lá uma Brastemp, visitar o Jardim Botânico para nós que gostamos de plantas já vale o passeio.. Se você também não conhece Giverny então as chances de curtir são bem maiores..
Uma pena que acho que não vamos conseguir nos encontrar..
Obrigado pela visita.. Adiantei este post especialmente por sua causa :D
Bjs
Vc precisa vir aqui conhecer Giverny... Mas, se prepare, porque nas suas fotos aparecerão ainda mais pessoas :) Lá é sempre lotado, mesmo em dias chuvosos. Parabéns por tanta informação sobre Monet. É muito interessante saber mais sobre a vida dele.
Renata
Pois é está ai uma coisa que não curto, principalmente quando é para fotografar natureza.. O jeito é tentar chegar bem cedinho. Mas depois que escrevi este post algumas pessoas falaram a mesma coisa e algumas falaram que ficaram decepcionadas com Giverny. Acho que criamos uma expectativa tão grande que acabamos ficando decepcionados..
Obrigado pela visita
Bjs
Que lindo ! Imagino o que deva ser apreciar isto in loco.Estava remexendo em livros de arte para rever as pinturas de Monet e fiquei me deliciando em ver tanta beleza.E fazendo comparativos com o que vi no blog.Esta exposiçao em ambientação
deve ser TUDO.
Esperava um pouco mais.. Mas mesmo assim foi legal.. Pena que estava muito cheio de gente..
Bjs