Já pensou em nadar com golfinhos quando estiver visitando a Nova Zelândia? Se sua resposta for sim, bem isso é possível em alguns lugares no país. No post de hoje vou relatar um pouco mais sobre a minha primeira experiência “ever” nadando com golfinhos em Kaikoura na Ilha Sul da Nova Zelândia.

Afinal de contas, quem que não gosta de golfinhos? Essas simpáticas e dóceis criaturas que parecem estar sorrindo e brincando o tempo todo, despertam a curiosidade e o afeto de muitas pessoas, entre elas eu. Tanto que nadar com golfinhos era uma experiência que eu acalentava desde criança, mas que até fazer esse passeio ainda não tinha tido a oportunidade de realizar.

Por não concordar muito com a forma com que esta atividade, amplamente difundida e comercialmente explorada em alguns parques temáticos nos EUA, alguns lugares do Caribe e em outras partes do mundo, é conduzida. Preferi esperar até que uma oportunidade mais alinhada com meus princípios éticos em relação ao assunto permitissem  a realização de tal atividade.

Esta experiência tornou-se realidade pela primeira vez aqui na Nova Zelândia, mais precisamente em Kaikoura na costa nordeste da Ilha Sul, onde tivemos a chance de nadar não com uma dúzia de golfinhos treinados e confinados numa piscina para agradar os turistas que pagam uma fortuna para tirar fotos agarrando os pobres coitados, mas sim, com mais de uma centenas de golfinhos selvagens e livres em seu ambiente natural.

Fantástico não é mesmo?! E já vou avisando: O vídeo não consegue transmitir nem cerca de um quinto da emoção de estar nadando com os golfinhos no meio do oceano. Quando cientistas e pesquisadores dizem que os golfinhos podem ser considerados um dos animais mais inteligentes do reino animal, tenho que concordar em grau gênero e número. “Uma das coisas mais incríveis desse mergulho com golfinhos em Kaikoura, na minha opinião, foi perceber que eles estabelecem contato visual com você. Eles estão literalmente olhando nos seus olhos, e quase conversando com você”.

Por serem criaturas com uma incrível sensibilidade ao som, tentar “conversar” com eles ou pelo menos fazer uns barulhos diferentes para chamar atenção destes curiosos animais, é certamente uma boa forma de chamar atenção e interagir com eles. É uma experiência meio bizarra, ver todo mundo fazendo barulho dentro da água, mas ao mesmo tempo muito legal.

Aproveitando a visita de nossos amigos que moram no Hawaii e que vieram passar alguns dias na Nova Zelândia, fomos para a ilha sul, reencontrar com eles e mergulhar com uma das maiores populações de golfinhos selvagens do mundo. Como eles nunca haviam visitado a ilha sul antes, decidiram partir mais cedo, logo no início da semana de forma a conhecer algumas das inúmeras atrações que a ilha sul tem a oferecer entre eles o Milford Sound, Doubtful Sound, Curio Bay e afins.

Na véspera do passeio, antes de reencontrar com nossos amigos em Christchurch, aproveitamos para fazer o passeio de trem a bordo do Coastal Pacific entre Christchurch, Picton e Christchurch. E para nossa surpresa e fascinação, de dentro do trem, avistamos centenas de golfinhos desta população nadando bem pertinho do trem na costa sul da região de Kaikoura. Ou seja, se déssemos sorte, as chances de ver e nadar com os golfinhos no dia seguinte quando visitaríamos a região de carro para o mergulho com eles eram bem grandes. De toda forma a taxa de sucesso em encontrar os animais é na casa dos 90%.

No dia seguinte, já de volta em Christchurch acordamos bem cedinho e fomos todos de carro até Kaikoura fazer esse passeio com os golfinhos pela manhã e deixamos o período da tarde reservado para ver os leões marinhos à tarde.

De Christchurch até Kaikoura são aproximadamente cerca de 180 km de carro que levam em média de 2 a 2 horas e meia para serem percorridos em cada sentido. Reservamos nosso passeio para as 09:30 da manhã com antecedência via Internet no site da Kaikoura Dolphin Encounters. E como se deve chegar com pelo menos 30 minutos de antecedência para experimentar os wetsuits e se preparar para o snorkel/mergulho com os golfinhos, deixamos Christchurch ainda de madrugada e tivemos o esforço compensado com um belíssimo nascer do sol pelo caminho.

Quando finalmente chegamos na costa de Kaikoura, uma densa cortina de neblina tomava conta da região. Por um minuto pensamos que isso poderia arruinar nosso mergulho com os golfinhos. Mas felizmente foi só falso alarme.

Até finalmente cairmos na água, o tempo abriu completamente não só tornando a visualização dos golfinhos mais fácil para a tripulação da Kaikoura Dolphin Encounters, mas também mostrando toda a beleza e explendor deste incrível litoral cercado por montanhas que se elevam abruptamente a partir do mar e que dependendo a época tem seus picos cobertos de neve.

Como é de se esperar, por ter neve na maior parte do ano, a água do mar não é nada quentinha. É por essas e outras, que o mergulho com os golfinhos na costa de Kaikoura requer o uso de roupas de mergulho adequadas para suportar a temperatura da água. No dia em que caímos na água a temperatuda da mesma estava na casa dos +15o C. E é basicamente esta a temperatura da água da região ao longo do ano, ou seja geladíssima.

Apesar de intimidadora a temperatura da água é suportável com as roupas de mergulho fornecidas pela empresa que opera o passeio. Apenas os pés e as mãos que ficam desprotegidos que podem incomodar um pouco. Mas nada a ponto de atrapalhar consideravelmente o passeio. O duro mesmo, são os 3 primeiros minutos na água.. Depois o corpo acostuma e aí é só alegria. O difícil mesmo é querer sair da água.

Graças ao peculiar relevo submarino da região, a costa de Kaikoura é um verdadeiro paraíso para a vida marinha. Por alí existe muita abundância de alimento e é justamente esta abundância que atrai grandes populações de mamíferos marinhos para a região. Tanto que a região é considerada uma das melhores áreas do mundo para visualização de Baleias Cachalotes (Sperm Whales a mesma do livro do Moby Dick) e dos Golfinhos Dusky (Dusky Dolphins).

E foi justamente os golfinhos dusky (Lagenorhynchus obscurus), que vimos e nadamos em nosso passeio em Kaikoura. O dusky dolphin é um golfinho de tamanho médio e que tem em média cerca de 2m de comprimento e praticamente não tem bico como o Botlenoose dolphin (Flipper).

Sua cor é azul escuro (quase preta) na parte dorsal e da cauda, e branca na parte de baixo do corpo. Quando nascem, os filhotes tem cerca de 0,92 m de comprimento. E quando adultos, o macho (2,11 m) tende a ser ligeiramente maior que a fêmea (1,93 m).

As principais populações de dusky dolphins no mundo ocorrem apenas no hemisfério sul, ao redor da América do Sul, parte meridional da África ocidental e em águas da Nova Zelândia. Aqui na Nova Zelândia, os golfinhos dusky tendem a aparecem em águas mais turvas ao sul do East Cape e são mais raros em águas mais ao norte. Mas já foram vistos desde o sul da Ilha de Campbell e ao leste das Ilhas Chatham. As principais populações de Dusky Dolphins ocorrem em Kaikoura e na Admiralty Bay no Marlborough Sounds. Estima-se que existam de 12 a 20 mil golfinhos Dusky na costa da Nova Zelândia.

Grandes grupos com centenas e as vezes mais de mil golfinhos da espécie estão presentes em Kaikoura durante o ano todo, porém há registros de alguns indivíduos se deslocando para o norte para se alimentar em Admiralty Bay nos meses de inverno onde apresentam um corportamento diferente e tendem a aprisionar cardumes e se alimentar em grupo.

A dieta desta espécie é dominada por anchova, pescada, algumas espécies de lulas e  uma variedade de outras espécies de peixes pequenos. Em Kaikoura, os dusky dolphins normalmente se alimentam à noite, quando muitas de suas presas (lulas em particular) sobem das profundezas do oceano para águas mais rasas. Sim na costa de Kaikoura a profundidade das águas pode facilmente passar dos 1000 metros.

Quanto ao ciclo de vida da espécie, a expectativa de vida do dusky dolphin é de cerca de 30 – 35 anos idade. Eles atingem a maturidade sexual em cerca de 7-8 anos. Aqui na Nova Zelândia os filhotes nascem entre novembro a meados de janeiro e o período de gestação dura cerca de 13 meses, o desmame ocorre em menos de 3 anos.

Por determinação do departamento de conservação da Nova Zelândia, é permitido apenas um número restrito de passeios a cada dia.. Em cada um desses passeios, as pessoas que caem na água para nadar com os golfinhos podem ficar na água por um tempo determinado que geralmente não excede os 30-45 minutos. Como os golfinhos estão em seu ambiente natural eles podem rapidamente se afastar do barco e dos mergulhadores.. Nesse caso existe um limite de no máximo 3-4 caídas na água. Em nosso passeio foram necessários apenas 2 caídas para curtir os golfinhos nadando pertinho do barco.

Depois de mergulhar com os dusky dolphins em 2 diferentes pontos ao longo da costa, o barco ainda fez algumas paradas estratégicas pelo caminho antes de voltar ao South Bay Pier, para observarmos os golfinhos do barco..

Bem a visão dos golfinhos de dentro da água foi não só inédita, como emocionante. Mas observa-los agrupados de cima do barco foi sensacional. Por motivos conservacionistas, o mergulho nunca é feito em meio aos grandes grupos de golfinhos, visto que eles preferem águas mais turvas, o que obviamente compromete ainda mais a visibilidade para quem cai na água.

No dia do nosso passeio a visibilidade era de 5-8 metros, mas onde os grandes “pods” costumam se agregar a visibilidade raramente passa dos 2 metros. De toda forma ver de pertinho um dolphin pod com mais de 100-200 golfinhos, em uma água super azul (carregada de sedimentos) foi simplesmente fantástico..

E como comentaram nossos amigos.. A Nova Zelândia é um dos poucos lugares do mundo em que é possível observar este fenômeno praticamente durante o ano inteiro. Você já nadou com golfinhos antes? Onde foi? Já tinha visto um número tão grande deles assim juntos? Bem depois desse passeio, tive sorte de nadar novamente com Golfinhos em Niue, lá eram Golfinhos Roteadores, e a visibilidade da água passava dos 50 m. Dá uma espiada nesses posts de Niue aqui.

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