Atualmente muito se fala sobre aquecimento global e as mudanças climáticas causadas pelo aumento exponencial da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera desde a revolução industrial. E embora este ainda seja um tema bastante polêmico dividindo políticos e cientistas. Uma coisa é fato, o clima de nosso planeta está passando por sérias transformações. Basta assistirmos ao noticiário do dia para percebermos que os eventos climáticos extremos tem acontecido de forma cada vez mais intensa e freqüente.

E você não precisa ser cientista para chegar empiricamente a conclusão que algo muito sério esta acontecendo com o clima de nosso planeta. Se você olhar fotos tiradas há 50-70 anos atrás das principais geleiras do mundo, vai logo constatar que lugares que outrora eram um verdadeiro mar de gelo. Hoje nada mais são, que um grande vale vazio. Coincidentemente, hoje ao escrever este post encontrei esse vídeo em Time-Lapse mostrando a retração do Fox Glacier no ano passado. Chega a ser deprimente só de olhar.

Assim como em outras regiões do planeta, as geleiras da Nova Zelândia não passaram incólumes a este lamentável efeito colateral do chamado “progresso”. Com um total de aproximadamente pouco mais de 3000 geleiras (com mais de 1 hectare de área superficial) espalhadas pelo país. Estima-se que nos últimos 15-20 anos elas tenham perdido entre 30-50% de seu volume total de gelo. A situação é tão alarmante que alguns cientistas estimam que se continuarmos do jeito que estamos hoje, nos próximos 20-30 anos a quantidade de geleiras na Nova Zelândia reduza para cerca 10 % desse número para um total de aproximadamente 370 geleiras.

Embora sejam majoritariamente encontradas ao longo das montanhas dos alpes do sul, nem todas as geleiras da Nova Zelândia são acessíveis e / ou abertas para visitação. Dentre as geleiras mais conhecidas e procuradas pelos turistas que visitam a Nova Zelândia temos: Fox Glacier e Franz Josef.

Localizadas no Westland Tai Poutini National Park na Costa Oeste na ilha Sul da Nova Zelândia, estas geleiras são visitadas por milhares de pessoas que querem conhecer uma geleira antes que elas deixem de existir. E são de certa forma consideradas únicas no mundo pelo fato de o gelo chegar praticamente até o nível do mar em meio a uma exuberante floresta de Nothofagus.

Desde que mudamos para a Nova Zelândia, estávamos ansiosos por conhecer e finalmente pisar no alto das geleiras da costa oeste da ilha sul. Na verdade visitamos a região de Westland, durante uma Road Trip que fizemos de carro no final de 2012, início de 2013. Porém, naquela viagem, acabamos pegando tempo muito ruim e assim todos os passeios com contato com o gelo acabaram sendo cancelados. Restando-nos apenas a possibilidade de fazermos a trilha, debaixo de muita chuva, até a base de ambas as geleiras.

Ainda assim, como era véspera de Revellion, demos um jeito de resgatar um bloco de gelo que descia pelo rio para gelar nossa Champagne para a celebrar a chegada de 2013. Não foi exatamente a experiência que esperava, mas a Champagne gelada no gelo glacial de centenas de anos certamente ficou muito mais gostosa.

Desta vez, depois de concluirmos nossa viagem de Motorhome pelo extremo sul do país, continuamos nossa viagem de carro de Queenstown até a região de Nelson e quando passamos pela região das geleiras resolvemos tentar fazer um passeio de Helicoptero com caminhada por uma das geleiras da região.

Novamente, o tempo não estava uma maravilha. Apesar de sempre darmos sorte com o tempo em Milford Sound, na região dos glaciers, o tempo costuma não colaborar muito com a gente. Mesmo assim, conseguimos concretizar a experiência de caminhar sobre uma geleira na Nova Zelândia no imponente Fox Glacier.

Fizemos o Helihike com a Fox Glacier Guiding. Um passeio que além do transfer de helicóptero até as geleiras, contava com uma caminhada de aproximadamente 3 horas com um guia especializado pela geleira e depois o retorno, também de helicóptero, até a base de onde decolamos no início do passeio.

No valor do ingresso, além do passeio estavam inclusos o empréstimo de roupas de frio, calçados e equipamentos apropriados para a caminhada no gelo. Antes de embarcarmos no tour, os guias da Fox Glacier Guiding fizeram uma breve e informativa apresentação para instruir todos os participantes do passeio sobre o Fox Glacier sob o que esperar no alto da geleira. Além de procedimentos básicos relativos a segurança de todos os participantes.

Após a apresentação, o grupo já devidamente equipado com roupas e calçados especiais foi pesado e dividido em grupos para embarcar no helicóptero e seguir para o alto da geleira. O sobrevôo é curto, mas super emocionante e com vistas fenomenais sobre o vale glacial e a geleira propriamente dita.

Do helicóptero é possível avistar os meandros do rio formado a partir do derretimento da geleira e que consigo, carrega muitas rochas e sedimentos formando um delta espetacular que desagua no Mar da Tasmânia logo alí no horizonte. Prestando um pouco mais de atenção ao relevo, é até mesmo possível encontrar indícios do recuo da geleira ao longo dos anos. Assim como algumas cachoeiras, formadas depois que os subglaciares acabaram recuando em direção ao alto da montanha. Triste, mas ao mesmo tempo muito interessante.

Já no alto do Fox Glacier, assim que todos os participantes do Helihike daquele horário já se encontram no alto da geleira, recebemos algumas últimas instruções de segurança e recebemos um equipamento essencial. Os crampons, uma espécie de trava que você coloca debaixo do seu calçado que garante que você consiga caminhar sobre o gelo com maior aderência.

No início é meio esquisito para se acostumar com eles, mas sem eles este tipo de atividade seria certamente impossível. Depois dos procedimentos básicos de segurança no início do passeio, como andar sempre em fila indiana, como pisar no gelo para não escorregar e por aí vai, nos dividimos em dois grupos, cada um com um guia, para explorarmos uma ínfima parte do gigantesco Fox Glacier.

Olhando de longe, você não tem idéia de quão grande é uma geleira até você colocar os pés sobre uma. Isso que o Fox Glacier está cerca de 40% menor do que ele estava em meados do século passado.