Noumea: Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou
A Nova Caledônia é um país que você provavelmente nem imagina onde fica e talvez nunca nem tenha se quer ouvido falar antes. Localizada no pacífico sul entre a Nova Zelândia, Austrália, Fiji, Vanuatu e Papua Nova Guiné, a Nova Caledônia é uma coletividade ultramarina francesa que além de ser um belíssimo país tropical, com uma das maiores e mais biodiversas barreiras de corais do mundo, conta com uma riquíssima herança cultural.
No post desta semana da série: 1 cidade: 1 atração, vamos viajar até Noumea, a capital da Nova Caledônia, para conhecer um pouco mais sobre esse país e principalmente conhecer mais um pouquinho sobre a história e herança cultural do povo local, os Kanaks. Para isso, vamos visitar o peculiar Jean-Marie Tjibaou Cultural Centre de Noumea. Um centro cultural pioneiro projetado pelo renomado arquiteto italiano Renzo Piano que, além de referência mundial em etnografia dos povos do pacífico, ajuda a fomentar e preservar as crenças e tradições da cultura Kanak para as futuras gerações.
Noumea : Centro Cultural Jean Marie Tjibaou
História
Localizada no coração da Melanésia, a Nova Caledônia historicamente até a chegada dos primeiros colonizadores europeus era habitada pelos descendentes da ancestral cultura lapita que outrora se extendia desde a Nova Caledônia, Vanuatu, Fiji até Tonga e Samoa, os Kanaks.
Desde o inicio da colonização européia iniciada na segunda metade do século XIX, a cultura Kanak vem sofrendo com o processo de assimilação cultural que praticamente levou a extinção da mesma. Para se ter uma idéia, hoje apenas pouco mais de 39% da população na Nova Caledônia se define como Kanak e como muitos deles já vivam em cidades e vilarejos, apenas uma pequena parcela dessa população, ainda vive em tribos no interior do país.
Desde o final da década de 70 e início dos anos 80 um movimento Kanak pró independência surgiu na Nova Caledônia visando a independência em relação à França e principalmente visando fomentar a língua e cultura local. Depois de uma série de manifestações e conflitos localizados, o tratado de Mantignon foi assinado entre representantes da França e da Nova Caledônia dando mais poderes aos colonizados.
Entre os artigos desse tratado estava a criação de uma agência para o desenvolvimento da cultura Kanak que segundo os planos serviria para fomentar estudos de linguística e arqueologia. Além de promover o artesanato, as artes e encorajar interações inter-regionais e a pesquisa etnológica em assuntos pertinentes aos Kanaks.
O estabelecimento desta agência, hoje conhecida como ADCK (Agency for the Development of Kanak Culture) aconteceu em maio de 1988, mas a posterior construção do centro cultural em Noumea, sede da ADCK, só foi acontecer depois do assassinato do então líder e “mártir” do movimento Kanak na Nova Caledônia, Jean-Marie Tjibaou em 1989.
Por ordem direta do então presidente francês François Mitterrand, e como forma de amenizar o sentimento local anti colonialista fomentado com a perda do líder do movimento Kanak, um centro cultural como o envisionado por Jean-Marie Tjibaou foi encomendado para ser construído em Noumea.
Para isso, em 1991, abriu-se uma competição de design internacional que foi vencida pelo arquiteto italiano Renzo Piano, que entre outras obras assina também o The Shard em Londres, o novo Whitney Museum em Nova York e o Centre Pompidou em Paris.
A construção do centro cultural kanak, então batizado de Jean-Marie Tjibaou em homenagem ao líder do movimento Kanak, aconteceu num período de 5 anos entre 1993 e 1998. E em 4 de Maio de 1998, exatamente 9 anos após o assassinato de Tjibaou, o local finalmente abriu as portas ao público. Transformando-se não apenas numa referência etnológica do pacífico sul , como também numa das principais atrações turísticas da capital da Nova Caledônia.
Prédio
O concurso para a escolha da proposta de construção de um centro cultural Kanak em Noumea atraiu projetos de vários escritórios de arquitetura do mundo. Dentre as propostas enviadas ao painel incumbido na escolha do projeto vencedor, o escolhido foi o projeto por Renzo Piano.
Durante a realização do projeto de concepção do centro cultural de Noumea, Piano e sua equipe trabalharam com base nas premissas que as construções do povo kanak nascem da estreita relação do homem com a natureza e com a efemeridade de alguns de seus materiais. E que sua continuidade no tempo não é baseada na duração do edifício isolado, mas na preservação de uma topologia e de um padrão construtivo ao longo de gerações.
Outra vertente da cultura local adotado no projeto foi a concepção da paisagem como elemento indissociável da arquitetura, uma corrente cada vez mais popular na arquitetura contemporânea e que encaixou-se perfeitamente na proposta de Noumea.
Localizado em uma pequena península ao leste de Nouméa, em parte cercada pelo mar e em parte por uma lagoa coberta por densa vegetação de mangue, num ambiente análogo aos assentamentos kanak, que querem, simultaneamente, ser bosque e povoado.
O centro cultural foi proposto como um conjunto de edificações, vias e espaços abertos unidos por um núcleo central: a alameda do povoado tradicional kanak.
Para a construção dos diferentes ambientes utilizou-se muitos materiais locais, principalmente madeira, que ergueram um verdadeiro ícone da arquitetura moderna do pacífico sul. Simplesmente magnífico.
Museu
A experiência de familiarização com o centro cultural e suas atividades vai acontecendo simultaneamente. O acesso ao local não é feito de maneira frontal, mas através de um caminho paralelo à costa e ao edifício que sobe, serpenteante, ao promontório e acaba em uma praça elevada, à entrada do centro cultural.
No seu interior, o programa cultural apresenta-se quase como uma espécie de ritual, passando pelas exposições dos espaços naturais da ilha, da arte, da história e da religião da civilização kanak. Para isso, o edifício foi organizado como um conjunto de três povoados que abrigam exposições fixas e temporárias, eventuais performances ao ar livre que geralmente acontecem aos finais de semana, anfiteatros, escritórios e biblioteca.
Os “povoados” conformam-se a partir de 10 edifícios/torres semicirculares, com finalidades diferenciadas, que se abrem inesperadamente sobre a alameda que conecta o centro, proporcionando “uma passagem dramática de um espaço comprimido a outro expandido”, pois, segundo Renzo Piano, “da cultura local roubamos os elementos dinâmicos e de tensão”.
O caminho temático continua fora do edifício. Uma trilha reconstrói a representação kanak da evolução humana e discorre sobre os momentos-chave dessa cultura: a criação, a agricultura, o habitat, a morte e o renascimento, partindo de suas metáforas extraídas de um mundo natural.
Reinterpretando as casas tradicionais kanak, levantam-se algumas destas edificações compostas de uma forte carapaça dupla, construída a partir de pilares e vigas de madeira, de modo similar ao sistema primitivo, porém menos curvadas e alongadas. Revestidas com a casca da madeira de iroko, que faz alusão às fibras tramadas das construções locais:
Dos seus aspectos gerais até os mais específicos, a arquitetura de Renzo Piano não busca mimetizar-se com as tradições locais, mas nutrir-se de sua autenticidade para dar-lhe uma leitura universalizante.
O Centro Cultural é a materialização de um cuidadoso esforço para encontrar, em confronto com diversos ritmos (espaço, tempo, cultura e clima), o justo equilíbrio entre artefato e natureza, tradição e tecnologia, memória e modernidade.
Honestamente falando, apesar de um acervo interessante, o mais fascinante do Jean Marie Tjibaou é sim sua espetcular arquitetura. E como a Nova Caledônia é uma país francófono, muitas das explicações das exposições do acervo, especialmente as exposições temporárias estão disponíveis apenas em francês e kanak.
Curiosidades
O Centro Cultural Jean Marie Tjibaou está exposto por um lado a fortes ventos e por outro a brisas suaves. Esta dimensão climática apropria-se da própria arquitetura, que registra os ritmos aos quais se vê submetida. Assim, associam-se volumes baixos orientados para uma lagoa e telas voltadas para o mar. Adaptados às extremas exigências do clima (com ciclones de até 240 km/h), os pavilhões “vela” giram sua parte posterior para o mar a fim de explorar com maestria os ventos dominantes ou induzir correntes de convecção, como é tradição local, equipando o centro como um eficaz sistema de ventilação.
Adorei o post e adorei descobrir esse novo destino. Parabéns pelas fotos!
Obrigado pela visita.. Nova Caledônia é de fato um destino muito conhecido por nós Brasileiros, mas é lindo!!! Preciso arranjar tempo para escrever mais sobre o país aqui!!!
Eu acho que nunca tinha lido nada sobre a Nova Caledônia, então o post foi muito informativo pra mim! A história do centro cultural é bem bacana, e que lindo que ficou o projeto escolhido! Que bacana essa arquitetura organizada de acordo com a intensidade dos ventos!
Parabéns também pela ideia do uma cidade: uma atração, vou dar uma olhada nos demais posts da série!
Oi Klécia. Pois é quando falo sobre a Nova Caledônia a maioria das pessoas não fazem idéia de onde fica. Na verdade é uma pena porque o país tem paisagens incríveis e pode ser acessado de forma relativamente fácil da Austrália e Nova Zelândia. Nós meio que demos uma parada com a série uma cidade uma atração, mas produzimos uma série de posts sobre várias cidades espalhadas pelo mundo.
Muito interessante a obra de Renzo Piano, tribal e futurista ao mesmo tempo, além de estar completamente agregada à natureza. Parabéns pela escolha do tema.
Oi Gisele,
A obra dele é mesmo bem peculiar e a tentativa de integrar ela com a natureza era um conceito relativamente novo na época em que o centro cultural foi projetado
Que lugar incrível! Estudei esse centro cultural na faculdade de arquitetura.
Morro de vontade de conhecer! Invejinha haha
Obrigado por compartilhar ! Ótima dica
Que legal!!! Eu quase fiz arquitetura e pirei nesse lugar…
Obrigado pela visita 😀
Acho que sou a única que já ouviu falar e sabe onde fica Noumea rs eu morei na França, e vez em quando passava algo na tv sobre Noumea. Eu acho bem interessante esses museus, uma forma de manter um pouco viva as tradições, e nos fazer conhecer mais.
Verdade acho que só que fala francês ou que mora na França está acostumado em escutar sobre Nouvelle Caledonie. O museu poderia estar um pouco mais bem cuidado é verdade, mas ainda assim é muito informativo e interessante. Isso sem falar no fato de ser fundamental para manter as tradições e costumem do povo Kanak
Muito interessante esse local, Oscar!
Confesso que na primeira foto, vendo o conjunto ainda no mar, achei a estrutura bem interessante…. chegando perto comecei a duvidar de minha opinião – rs!
Certamente essa arquitetura é muito mais interessante que um prédio gigantesco, branco e super moderno no meio do mato, mas sei là!
Renzo Piano é um fantàstico arquiteto, mas tem umas coisas malucas e estranhas… O Auditorium de Roma, por exemplo, é horroroso!
hahahahaha
É nem sempre é possível agradar gregos e troianos né?! Acho a proposta dele para esse projeto interessante e muito mais ecológica do que o projeto do Calatrava por exemplo fez para o Museu do Amanha no Rio de Janeiro.
Pois não é que você acertou em cheio? De fato nunca tinha ouvido sequer falar em Nova Caledônia!
Adorei o post! E me fez lembrar que existe um mundão imenso ainda por explorar!
É verdade!! por isso que eu brinco que tenho que acreditar em reencarnação porque nessa vida não vai rolar visitar e revisitar todos os lugares que gostaria nesse mundo.
Obrigado pela visita e pelo comentário no post 😀 Abs
Oscar, parabéns pela “aula” de hoje, além de história, geografia, porque jamais havia ouvido falar em Nova Caledônia. Adorei as informações, principalmente de como surgiu o Centro Cultural. Mais uma vez, parabéns!
Oi Francisco
Que legal que voce curtiu e aprendeu um pouquinho sobre a Nova Caledônia com esse meu post.
Obrigado pela visita e feedback
Nova Caledônia é tudo de bom, amo essa ilha e o Centro Cultural é realmente fantástico. Vale a pena atravessar o Planeta e dar uma chegada até lá e por falar nisso, estarei retornando pela terceira vez este ano!